quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Equipe acompanha rotina de seguranças de carros-forte

Foram pelo menos nove ataques a esses veículos nos últimos 40 dias em todo o Brasil.



"Quem se aventura em uma ação a carro forte é integrante de quadrilha muito bem organizada", avalia o delegado Juliano Ferreira. 

Nesta sexta-feira (20), bandidos agiram na capital de Pernambuco. Em vários estados, o clima é de apreensão. 

"Eles já vêm fechando e atirando, você não tem como reagir", conta o ex-vigilante de carro-forte Jurandir Francisco. 

Mas o que será que acontece dentro de um carro-forte? Qual a reação dos vigilantes diante do perigo? Em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, o Fantástico acompanhou a entrega de um malote contendo cheques e documentos valiosos. A equipe de reportagem teve que assinar um termo de responsabilidade e usar colete à prova de balas. Logo na saída, preocupação extrema com a segurança. 

Eles foram escoltados por outro carro forte. Em uma tela, é possível ver quando algum carro se aproxima. Conforto não é prioridade. Não tem nem como ficar em pé. É bem apertado e muito quente também, mesmo com ar-condicionado. 

Em cada veículo, vão quatro seguranças, armados com revólveres e espingardas. A sensação de andar em um carro-forte é de que assaltantes podem atacar a qualquer momento. Os seguranças ficam extremamente concentrados, em busca de qualquer movimentação estranha. 

No sinal vermelho, alerta máximo. 

"Prestamos atenção para ver se tem moto, algum carro suspeito, alguém suspeito", diz a vigilante Débora Camargo. 

Segundo as empresas de transporte de valores, 24 mil vigilantes trabalham em carros blindados por todo o Brasil. O treinamento é rigoroso. 

Em um centro de formação, em São Paulo, são 210 horas de aula, das quais 50 são voltadas exclusivamente para o trabalho em carro-forte. 

"O momento mais tenso no transporte de valores é o embarque e desembarque, porque eles ficam vulneráveis", explica o coordenador do curso, Fernando Silva de Souza. 

Dentro do carro forte em Campo Grande, nossa equipe vai da teoria à prática. Primeiro, dois vigilantes descem. Depois que os seguranças dão uma olhada do lado de fora e aparentemente não há nenhum problema, o malote é liberado. O cofre fica atrás. Um vigilante digita a senha e, em seguida, o malote sai. 

Por rádio, os vigilantes conversam o tempo todo. A entrega é concluída. 

"É adrenalina total, porque você não sabe o que vai encontrar lá. Por mais que procuremos visualizar, não sabemos", afirma Débora Camargo. 

Dados das secretarias estaduais de Segurança revelam que, neste ano, aconteceram pelo menos 35 ataques a carros-fortes no Brasil. 

"O que mais nos preocupa é o armamento utilizado, que atravessa o carro-forte como se fosse papel", diz o delegado Juliano Ferreira. 

Para saber como é construído um carro-forte, o Fantástico visitou uma fábrica em Caxias do Sul, na Serra Gaúcha, onde são produzidos 140 veículos por ano. O dono, Gélson Amalcaburio, explica que não pode revelar todos os detalhes da segurança, mas revela que qualquer parte do carro pode ser blindada, com chapas de aço e produtos especiais. "Há opções como blindagem do motor e dos pneus", diz. 

Mesmo que os assaltantes tenham acesso a parte interna do carro-forte, eles precisam ainda da senha para abrir o cofre. E, dentro do cofre, existe mais um sistema de segurança bem reforçado. Só assim é possível ter acesso aos malotes. 

O Exército determina que os carros-fortes tenham, no máximo, o chamado nível três de blindagem – o suficiente para resistir à maioria das armas usadas pelos bandidos, mas não todas. 

Rodovia Anhanguera, interior de São Paulo. Nossa equipe conversou com os dois vigilantes que estavam em um carro-forte atacado no começo do mês em Araras, São Paulo. 

"Foi planejado, já sabiam de tudo, até a nossa ficha, quem era motorista e quem era vigia", conta a vítima. 

Era fim de tarde. Um carro levava quase R$ 7 milhões e outro fazia a escolta. Segundo os vigilantes, uma caminhonete cercou o veículo que transportava o dinheiro e um bandido atirou com uma metralhadora ponto 50. As balas perfuraram facilmente a blindagem. 

O armamento, de uso restrito das Forças Armadas, mede quase 1,5 metro e derruba até helicóptero. 

"O tiro acertou no motor. Se não abríssemos a porta, o carro-forte podia explodir com a gente dentro", conta um dos vigilantes. 

A escolta também foi metralhada e bateu em uma carreta. Os vigilantes contam que os bandidos estavam encapuzados, com coletes à prova de balas e atiravam pra todo lado. 
Os assaltantes faziam uma contagem regressiva do crime. 

"Eles não conversavam, só mandavam agilizar: Diziam que tinham 20 minutos", lembra um dos vigilantes. 

A quadrilha ainda bloqueou a estrada com um ônibus e usou explosivos para arrombar o cofre. 

"Deu para ver que o estava com a ponto 50 na mão era o chefe", explica a vítima. 

Depois que os bandidos fugiram com o dinheiro, uma descoberta trágica: um tiro, provavelmente da metralhadora ponto 50, matou o empresário Ivo Zanatto, de 59 anos, que passava de carro por ali. 

"Essa arma teve que sair ilegalmente de um país e entrar ilegalmente no Brasil. Com certeza, isso causa indignação", diz o filho do empresário, Omar Ajame. 

O coronel do Exército César Augusto Moura, subchefe do Comando Militar do Leste, compara a munição da ponto 50 com a de um fuzil. 

"Não tem nenhum meio de transporte – terrestre ou aéreo – que não seja parado por ela se não tiver uma blindagem especial", diz o subchefe Comando Militar do Sudeste Coronel César Augusto Moura. 

Segundo o consultor em segurança Haroldo Abussafi Figueiró, é preciso combater a entrada desse tipo de arma no país, investir na qualificação dos vigilantes e ter um bom planejamento no transporte do dinheiro. 

"As empresas têm que se precaver, não devem ter a mesma rota todos dos dias e ter o máximo de sigilo possível na operação", afirma. 

A preocupação agora dos vigilantes é com o pagamento do 13º salário e as festas de fim de ano. Com mais dinheiro em circulação, há o temor de novos ataques.

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